Pra lembrar da minha infância, voltei lá passear.
No caminho imaginando, tudo igual ali encontrar,
Aquela mata fechada, de bodoque sempre caçar.
E no fundo do potreiro, todos os sábados pescar,
Entre pedras e barranco, nas tocas com a mão pegar,
Tinha peixe em abundancia, era só no rio buscar,
Os animais selvagens e pássaros, na algazarra cantar.
De volta pra minha terra, ao longo daquele caminho,
Só enxergava taperas, no lugar que tinha os vizinhos,
O pomar que o pai plantou, as parreiras que dava vinho,
Cortaram todos os pinheiros que dava presépio e pinho.
Tiraram o paiol e o curral, nem se quer avistei o terreiro,
Varanda engenho de madeira, forno de barro e galinheiro,
La estava cheio de bois, não eram os mesmos terneiros.
Só ainda não tiraram dali, a serra que tem no potreiro.
No local que tinha a casa, a escada estava ali,
Sentado nela e recordando, dos bons tempos de guri.
Embaixo dela a mão do pilão e o eixo do carrinho eu vi,
De tristeza estava delirando, a voz do radio grande ouvi.
No lugar do milho, só capim! Sai andando pra disfarçar,
Da gamela e do pelego, num pedaço fui tropeçar,
O pé esquerdo do sapato de quando fui me crismar,
E o crânio do velho pitoco foi só o que dele restou lá.
Meu Deus quanta tristeza, porque lá eu fui voltar,
Antes eu vivia em sonho, agora não posso mais imaginar.
Aonde a mata nativa, que a lenha nós ia buscar,
Quando cheguei no rio, correndo o poço fui procurar.
Ao pular dentro do córrego, de tristeza me pus chorar,
A pedra que escondia os peixes, encima dela fui sentar.
No lugar que eu mergulhava, mal os pés deu pra molhar,
Sol quente e nem arvore, pra mim na sombra descansar.
Não vi mais o pé de açoita, nem o cipó pra balançar,
Em que todo o ano dentro dele, o periquito vinha criar,
O pé de cedro onde cantava a juriti e o sabiá,
As pitangas e guabirobas, o areticú foram cortar,
A canoa só na lembrança, os lambaris e os jundiás,
Cascudo boca de fogo, o veado e o lobo guará,
Mão pelada e capivara, lebre, quati e o gambá,
O quero-quero resistido, ficou sozinho a cantar.
Eucalipto e pinus, na lagoa e na fonte foram plantar,
Matou a terra, secou a água, nem um gole pra mim tomar.
No lugar que tinha a capela, só o sêpo do sino tinha lá,
A escola e o campinho, nem o caminho que eu ia estudar.
O rodado do carro de boi, dentro da sanga tava jogado,
Derrubaram o muro de pedra, e o bananal foi arrancado,
Num palanque cabo do lampião e o machado cravado,
Matadaram a natureza, e com a biodiversidade exterminado.
Nada aqui eu pude ver, de tudo o que vivi na infância,
Eliminaram o meu viver, o meu sonho de criança,
É uma historia destruída, que ficará só na lembrança,
Meu paraíso foi extinto, pela maldita ganância.
Quero que fiquem sabendo, porque estou revoltado,
É um verdadeiro deserto, se pudesse voltava o passado,
Os belos fatos da vida, só ficarão registrados,
Por que eu resolvi escrever, estes meus versos rimados.
Clairto Buffon, Chapecó, 04 de Abril de 2010.http://poetadaterra.blogspot.com/